ARQUIVOS, IMAGENS, TEXTOS E REPORTAGENS SOBRE RITA LEE, A BIG MAMMA DO ROCK

domingo, 28 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 4


Rita de Hamlet. Foto do clipe de "Todas as Mulheres do Mundo", do disco de 93

quarta-feira, 24 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 3

Rita Lee vestida como Cleópatra para o clipe de "Todas as Mulheres do Mundo", do disco de 1993.

terça-feira, 23 de junho de 2009

16 anos do "93" - parte 2

Reportagem de Folha de São Paulo de 1º de julho de 1993 sobre o disco


Rita Lee lança disco 'despojado' e desafia menopausa com rock

Ela já foi uma mutante tropicalista, lançou o sabor tutti-frutti no rock local e criou vários hits na banheira de espuma que dividiu com o marido Roberto de Carvalho. Agora, após a intimista transição "bossa n' roll", Rita Lee se mostra decidida a reassumir seu status de mãe do rock brasileiro.
"Não tenho mais o compromisso de vender milhões de discos — aquela coisa que eu já fui", diz a "mama" roqueira, que até o fim do mês chega às lojas com o álbum "Rita Lee" (Som Livre). Entre as 11 canções inéditas, ela inclui parcerias com Itamar Assumpção, Nelson Motta, Antonio Bivar, Mathilda Kovak, Carlos Rennó e Oswaldo Luiz, além de Roberto de Carvalho.
"É aquela eterna vontade de fazer rock no país do samba", diz Rita, que considera seu novo disco "simples e despojado". "É o rock básico que eu faço há 26 anos. Não tem qualquer sinal de modernidade. Não tem sampler, nenhum sintetizador, nem mesmo bateria eletrônica. Sou mais para Lou Reed do que para Snap."
Falando à Folha de Miami, onde passa suas férias, Rita diz que volta até o fim do mês. Mas o show de lançamento só acontece depois de outubro. "Vou fazer uma banda mais heavy, mais pesadona", avisa.

domingo, 21 de junho de 2009

16 anos do "93"


Mês que vem, o "Rita Lee" ("Todas as Mulheres do Mundo" ou apenas "93", como chamam os fãs) completa 16 anos. Parece que foi ontem que amanheci na loja de disco no dia do lançamento (sim, ainda existiam os discões, saí de lá com a versão vinil, CD e K7) para carregar, na maior emoção e expectativa, aquele discão do caR#####! Rita estava desde 1990 sem gravar um disco de inéditas e vinha de uma turnê de sucesso, Bossa'n Roll (que também virou um belíssimo registro ao vivo em CD/ K7/ vinil).
Era tanto falatório em cima desse disco... e na época não existia esse monte de informações da internet. Ou seja, a gente não tinha idéia do que ia encontrar. Quando coloquei na vitrola o discão, os acordes roqueiros de "Filho Meu" já me ganharam. Estava tudo lá: as letras fodon@s, os temas femininos, o humor ferino, o talento de melhor compositora de todos os tempos, a big mamma do rock e, na minha modesta opinião, a voz mais marcante do mundo, a maior cantora planetária.
A segunda versão de "Ambição" me emocionou. "Menopower" e "Todas as mulheres" me fizeram sorrir, pensar e ter vontade de dançar. "Benzadeusa", Rita e Roberto das mais infalíveis. "Mon Amour", tocante. "Maria Ninguém", homenagem à grande Bardot, com requintes bossa'n Beatles de "Do you want to know a secret". "Drag Queen", "Canaglia","Só vejo azul", delícias sonoras. "Deprê", uma porrada. "Tataratlante" foi a primeira 'preferida'. Depois, o disco inteiro passou a ser de 'preferidas'. Não tem uma música sequer que eu pulasse ou desse um skip no CD. Instant classic a partir do momento em que tocou na minha vitrola. E tocou a minha vida.

Obrigado, Rita!

Guilherme

Para homenagear essa obra fodon@, vamos fazer alguns posts só com material da época.
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Revista Veja - Julho de 1993

Lance de mestre

Rita Lee volta ao rock e lança um grande CD

O novo CD de Rita Lee tinha boas chances de passar despercebido na rotina de lançamentos das gravadoras. O rock nacional saiu de moda sem deixar mais do que três ou quatro verbetes na história da MPB, a própria Rita parecia não saber para onde ir em seus discos recentes e, nos últimos três anos, passou a requentar a própria obra em ritmo de bossa nova. Seu show Bossa'n Roll e o CD homónimo foram grandes sucessos, mas deixaram no ar a pergunta: o que poderá fazer depois disso? A saída encontrada por Rita Lee foi ao mesmo tempo a mais óbvia e a mais arriscada — voltar ao velho rock. Poderia ter dado com os burros n'água. Acabou gravando um dos melhores discos de sua carreira.
No CD, balizado com seu nome, que já está nas lojas, Rita exibe um vigor como intérprete e uma inventividade como letrista como há tempos não se viam. Está irreconhecível. Ou melhor, volta-se a reconhecer nela a compositora esfuziante, irónica, cáustica e desbocada dos bons tempos em que, segundo sua própria definição, roqueiro brasileiro tinha cara de bandido. Não se trata, porém, de uma simples retomada estética do passado. Não teria sentido Rita arvorar-se a ideóloga da rebeldia juvenil na era do Sepultura e do Metallica. O que ela faz é resgatar essa postura para o seu mundo de hoje, o mundo de uma artista de 45 anos. Rita voltou a ser rebelde, mas mudou de assunto.
O resultado dessa virada está, por exemplo, em Todas as Mulheres do Mundo, em que a letra enfoca com ironia tipos femininos de hoje — como as "Irmãs La Dulce beaidetifícadas" e as "Xuxas em crise" — para concluir: Toda mulher quer ser amada Toda mulher quer ser feliz Toda mulher se faz de coitada Toda mulher é meio Leila Diniz.
Está também na escancarada Menopower, em que cutuca um assunto que muitas mulheres têm dificuldade em abordar, a menopausa. Está ainda em Drag Queen, que passa a limpo com carinhoso deboche o mundo dos travestis. Não é coincidência que essas três faixas pincem temas no universo feminino e há outras mais que seguem essa inspiração, como Benzadeusa, Mon Amour e a regravação de Maria Ninguém, de Carlinhos Lyra.
Rita Lee é um disco autoral, que não poderia ser gravado por um cantor ou por uma banda. É um disco permeado da visão feminina do mundo. "Foi por acaso que esses temas foram surgindo", sustenta a compositora.

LIÇÃO DIFÍCIL
Também sob o ponto de vista estritamente musical Rita busca as lições certas no próprio passado. As composições mais leves, de sabor pop, recheadas de teclados e baterias eletrônicas, deram lugar ao rock básico e rascante que ela cultivava há dez anos, em sua carreira solo e nos anos dourados do início da parceria com o marido, Roberto de Carvalho. Pode-se argumentar que é um rock sem novidades, e é mesmo, mas executado por alguém com experiência suficiente para fugir do banal e reinventar o que já é conhecido. Eis aí a lição mais difícil a ser aprendida pelos bons músicos. No panorama internacional, os Rolling Stones há décadas fazem boa arte com os mesmos acordes. Com seu novo disco, Rita, na MPB, deu o seu pulo-do-gato.

Post recheado

Algumas do baú da Eliana!
Gravação do show 3001
Turnê "Yê yê yê de Bamba" (2002)



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Texto extraído da "Enciclopédia do Rock" de 1983


"Minha mãe queria que eu fosse freira, sem saber que eu já era viúva de James Dean." Poderia ser apenas mais um caso da jovem artista caçando atalhos que a desviassem das linhas maltraçadas pelos pais. Só que seguir as escapadas da garota Rita Lee jones conta, por tabela, todos os capítulos da história do país do carnaval que digeriu o rock'n rol!. Capricorníana da turma de 47, sangues italiano, americano e pele-vermelha misturados no caldeirão da capital paulista, e a logo ficou sabendo, na escola não se falava em outra coisa.
No começo, eram a voz e os quadris de Elvis, em ritmo de sinuosos e insinuantes vaivéns. Em casa estava proibido: não havia vitrola e a ordem do dia-a-dia era estudar. Depois, sempre às escondidas, mais dois golpes fatais: Beatles, claro, e o pop doce-ensolarado dos Beach Boys. Rita acabou montando, com duas amigas, seu próprio grupo. De noite a colegial saltava pela janela e virava cantora-baterista das Teen Age Singers. Uma via-sacra de shows em escolas, bailinhos de formatura e até calouros na TV.
Logo vem a passagem, de raspão, pelo primeiro capítulo da história. "Descobertas" por Tony Campelo — irmão da Cely —, as três gravam alguns corinhos de fundo para a primeira safra do rock paulistano — gente que depois ia se juntar na Jovem Guarda. — Como Demetríus e os Jet Blacks. Tudo ia muito bem. Até quando a família descobre — uma crise de apendicite aguda em pleno show — e acaba liberando a filha rockeira para ouvir, dançar, cantar e tocar. Rita ganha até uma bateria de presente de formatura.
Depois da Jovem Guarda, o próximo capítulo já traz outro trio botando fogo e eletricidade no terreno da MPB. Do samba-canção tocado às gargalhadas ao twist da rua Augusta, os Mutantes faziam os rockinhos brasileiros anteriores parecerem cânticos de convento. Mas antes voltemos ao fim das Teenage Singers.


O problema da baterista era que o ídolo Paul McCartney tocava baixo. Ela também queria. Seu primeiro professor foi Arnaldo Dias Baptista que, junto ao irmão-guitarrista Serginho, também circulava pelo circuito de bailinhos e similares com os Wooden Faces. No fim das contas, somando-os ao trio de garotas, nasceu o sexteto Six-sided Rockers. E, para encurtar o conto, sobraram mesmo Rita, Arnaldo e Serginho. Batizados como O Conjunto, chegaram a gravar um compacto: O Suicida, segundo ela "um rock bem paulista que falava em se atirar do Viaduto do Chá".
O nome Mutantes só surgiu em 1966, nos bastidores do programa que Ronnie Von apresentava na TV para concorrer com as tardes de domingo de Roberto e Erasmo (onde a trinca alucinada era barrada, claro, em nome dos velhos bons costumes).
Um dia, faziam em um estúdio o habitual papel de "conho de fundo" quando cruzaram com o compositor da música, Gilberto Gil. Recém-chegados a São Paulo, Gil e Caetano tramavam o movimento Tropicalista, para ligar a MPB na tomada da era Psicodélica. Conversas foram e vieram, o baiano convidou os Mutantes para acompanhá-lo no festival da TV Record.
O histórico festival de 1967. De um lado, coloridas alegrias da Tropicália, fundindo o iê-iê-iê e o folclore nordestino numa só panela. Do outro, a chiadeira cinza-ranzinza dos puristas, torcendo pelo violão & banquinho "brasileiros" contra as guitarras "imperialistas". A televisão transmitia em clima de final de Copa do Mundo. E, bem no meio do fogo-cruzado, os Mutantes; afinal, eram deles as guitarras de Domingo no Porque.
Eles continuavam rindo. Num de seus discos avacalham sem piedade o Chão de Estrelas de Sílvio Caldas, o máximo da emepebice rebuscada. Enturmados de vez com a troupe tropicalista, lá estão eles na capa e no recheio de Tropicália, o famoso disco-manifesto do movimento. E vão continuar anarquizando: Rita de noiva grávida, Arnaldo saído da Idade Média e Sérgio de toureiro. Aparece até um abaixo-assinado dos tradicionalistas, críticos e músicos, pedindo a proibição das guitarras.
O pessoal esperneia mesmo quando o grupo grava um jingle para a Shell. A verdade é que o merchandisíng vai fundo. Em 1969, chega a vez do grupo se apresentar em Paris, vendido com o rótulo de "Beatles brasileiros". Uma típica sessão de macumba para turista; desta vez, Rita vai de baiana, Arnaldo de índio e Sérgio de cangaceiro. Até o primeiro LP individual da mutante, Build Up (1970), vem embrulhado em uma promoção da Rhodia, embalando Rita de modelo.
Por essas e outras, o tempo vai fechando sobre o teto dos três. A chuva de boatos e fofocas sobre a separação engrossa com o lançamento de um novo disco da cantora a sós, apesar de produzido por Arnaldo, com quem se casara. O título é dos mais sintomáticos: Hoje É o Primeiro Dia do Resto do sua Vida. Rita deixaria os Mutantes? Ela desmente... por pouco tempo.

Em 1973, a gravadora Phonogram prepara uma grande festa-show com todo seu elenco. Atrações: surpresas suculentas, como os duetos Gilberto Gil/Chico Buarque e Caetano Veloso/Odair José. Entre elas, Rita lança com a amiga Lúcia Turnbull sua nova aventura: o nome é As Cilibrinas; o som só voz e violão.

Nos Mutantes, Rita compunha uma boa fatia do repertório e das gracinhas corrosivas. Quem traçava as coordenadas, porém, era Arnaldo, que às tantas pretendia uma virada para o estilo dos grupos progressivos ingleses; Trocando em miúdos: adeus letras debochadas, alo misticismos seriosos; adeus suingue e requebrado, alo firulas e pompas classicosas. Na época, a loirinha estava, inclusive, mais ligada no pop futurista de David Bowie. Resultado: tingiu também o cabelo de vermelho e se mandou.
Mas As Cilibrinas não podiam mesmo durar muito. Venceram as saudades da eletricidade e da cozinha pesada, o bloco baixo-bateria. Quando chega a hora de entrar no estúdio, Rita já tinha acoplado o Tutti Frutti, grupo ao gosto: rock entre o cru e o malpassado, levemente pesado, altamente dançável. A festa desse primeiro encontro, Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974), marca o pulo fora da Philips/Phonogram.

Pois Rita não tinha gostado nada da "limpeza" feita pela gravadora no som da banda. Mesmo com a reviravolta tropicalista, uma batalha mais dura ainda emperrava a guerra da digestão. Pelo menos, enquanto encarregavam técnicos de filtrar o rock ao gosto do "consumidor comum": ou abaixam as guitarras, ou tapam tudo com a voz. No caso dela, a gota d'água pingou quando, às escondidas, revestiram a música Menino Bonito de violinos açucarados.

Na Som Livre começa a decolagem até o capítulo de hoje, Rita Lee Superstar. Aproveitando o embalo de Ovelha Negra (1975), espalhada em cadeia de rádio e TV, sai com o Tutti Frutti numa excursão missionária, até a Amazónia, levando rock'n roll. Roqueiros de todo o país, então em quase absoluto jejum, dançavam e se lambuzavam. Iluminação multicolorida, som estrondoso mas cristalino, todos os ingredientes do espetáculo rock-ao-vivo-para-os-cinco-senti-dos. De repente, Rita Lee era a primeira e única dama desse bando de órfãos.

Para ela, um fruto dessa caravana é o sonho fixo em todas as entrevistas da época: molhos e temperos para o "roquenrou" à brasileira. Tanto achou a trilha que Lança Perfume vendeu, em 1981, milhares de cópias na França e na América do Sul. Mas os últimos degraus para o panteão não podem ser contados sem a entrada em cena de Roberto de Carvalho.
A hora é oportuna. Em 1976, ele aparece entre várias turbulências. Primeiro, Entradas e Bandeiras — o LP composto durante a tournê missionária — faz despencar o pique das vendagens e tira o Tutti Frutti de campo. Superestafada, Rita acaba deixando o disco semipronto para o grupo completar. O resultado é o extremo oposto dos "baixos-teores" que provocaram o atrito com a Philips; ou seja, toneladas de pauleira enterrando sua voz. Com Roberto assumindo guitarra e teclados, as sobras do Tutti Frutti são reformadas com o nome Cães & Gatos.


Na sequência, vem a prisão por um punhado de maconha. Desta vez quem se lambuza é a imprensa em manchetes marrons, mas ela, grávida, consegue se safar. Agora, Roberto passa também a acumular a pasta de empresário. E a volta por cima é das mais divertidas.

Com o velho amigo Gil — preso algum tempo antes pelo mesmo motivo — Rita cai na estrada com o show Refestança (que deu o único disco ao vivo da roqueira). Para o ponto alto, a dupla vai pescar É Proibido Fumar no baú da jovem Guarda. Pouca irreverência perto de Arrombou o Festa, que joga de Chico Buarque a Benito de Paula no mesmo saco da MPB seriosa. Apesar de um ou outro protesto furioso, o compacto faz rir os quatro cantos do país. E, como a MPB não se toca, ela volta à carga, no ano de 1979, com Arrombou a Festa nº 2.
Quando o guitarrista-empresário entra de parceiro, o casal passa a aprender e cultivar a arte de agradar a todos os paladares. Nesse LP de 79, o rock é apenas um entre os ritmos da salada pop. Tem até uma discothèque descarada, para horror da legião roqueira que começa a resmungar da deserção. Choramingos à parte, o disco vende quase meio milhão de cópias. O grande sucesso, Mania de Você, inaugura uma Rita Lee romântica de fina sensualidade, hoje marca-registrada.

Consagrada como primeira-dama da música pop brasileira, todos os antigos sussurros de "gringa imperialista" entram para a lata de lixo da história. De repente, passam inclusive a considerar seu arsenal de duplos-sentidos descendente direto das marchinhas do mestre Lamartine Babo. Transbordando de adoração, Caetano Veloso a cita como a "mais completa tradução" de São Paulo. E, para finalizar, vem o aval de João Gilberto, convidando-a para cantar em seu especial para a TV.
Ele, por sua vez, comparece no último disco de Rita em uma gozação dos sambas ufanistas à La Aquarela do Brasil. Com o nome de Roberto de Carvalho já dividindo as honras da capa, o LP retoma o sucesso de Lança Perfume — o anterior, Saúde, vendera apenas a metade. Além disso, escancara-se ainda mais o horizonte pop do casal, atacando de foxtrot, ritmo que embalou os bailinhos da vovó.

Avós e netinhos se misturam à juventude dourada nas platéias que lotam a excursão milionária no verão 82/83. Em efeitos especiais e folia generalizada, organização e entourage, o show não deve nada às superproduções do circo do rock internacional.
No balanço final, 23 cidades e um público total superior a dois Maracanãs. Nas agendas do parceiro-empresário, planos para disseminar a febre planeta afora. Pode ser que todas as brigas e batalhas sejam coisa do passado. Pode ser até que uma nova safra de rocks engraçadinhos — chamados por aí de "filhos de Rita Lee" - esteja superpovoando as trincheiras cavadas desde os tempos dos Mutantes. Mas as aventuras da "viúva de James Dean" não terminam aqui.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sampa

Rita, no Viaduto do Chá. Gravação do clipe Gloria F no centro de São Paulo.

sábado, 13 de junho de 2009

Rita Lee na revista Bizz na época do Flerte Fatal

1987: Revista Bizz - "Rita Lee - Panis Et Circensis"
Reportagem publicada apenas com frases da Rita, falando de carreira, disco e de seu momento na época


Autocrítica

Não sei se eu criticaria a Rita Lee. Vamos ver se eu consigo. Vou lazer uma avaliação de épocas. Como eu vivi num momento dentro do tropicalismo ativo no Brasil - acho que aquilo era uma atitude rock... Veja que coisa mais pré-histórica: não se podia tocar guitarra na MPB! E os Mutantes foram lá e quebraram a coisa. Os tempos mudaram. A Rita Lee... ela não... ela já... Vamos fazer o contrário. Não vamos lazer crítica, vamos entender o lance dela: Rita. Quando ninguém ia ver show de rock, a gente chegava e levava caminhões de mudança pro Brasil inteiro. Mas a música para mim, hoje em dia, não é a minha vida. É apenas uma parcela dela. E Rita Lee é apenas um personagem nessa coisa de música. Eu não precisaria fazer isso (disco, contrato, estrada). Tirei o time de campo, em 83, porque eu estava drogada, estressada. Tirei o time de campo porque eu acho que esse personagem Rita Lee sempre propõe alegria, festa. Houve tempos em que fazer isso era uma revolução. Hoje em dia não é mais.

Rádio Amador
A experiência com Rádio Amador foi uma das coisas mais gostosas e prazerosas que eu já fiz. O prazer de mexer com gente novíssima, com gente que já foi... E a sorte de ter um texto do Bivar toda semana. Mas tivemos que parar para poder divulgar um trabalho. De repente eu não podia fazer o programa porque as rádios deixaram de tocar as minhas músicas. Tenho vontade de fazer rádio de novo. Mexíamos muito com demo tapes. E tem muita gente que ainda não gravou. Estou só esperando, porque se grava muita porcaria nessa coisa de rock. Acho que deveria ter programa de rádio que desse oportunidade para gente nova. Eu entendo a pobreza e os 'debaixo do pano' que rolam. Mas não custava nada arrumar um patrocínio para que em toda rádio tivesse um espaço de uma hora ou meia, que fosse - só para pegar demo tapes.

"AIDS Quem Faz Amor"
O amor é um passo da eternidade. De um lado você tem que ficar muito atento ao fazer amor. É uma coisa que deveria ser levada pelo coração. Mas agora você tem que ter um pouco da razão toda hora que você for fazer amor com um parceiro diferente. É uma situação triste, mas é a cara de 1987, a cara do apocalipse, a cara de Nostradamus, a cara da Peste Negra. Ainda não vejo muito o lado bom da AIDS - deve ter. Sempre tem os dois lados. Mas... Não sei se é minha implicância com os americanos de tanto que eles saquearam o mundo e saqueiam ainda - principalmente o Brasil - mas aquela teoria de que a AIDS foi fabricada em laboratório eu não dispenso. Para mim faz muito mais sentido do que o coitadinho do macaco verde lá da África... E a discriminação que surgiu da coisa gay, quando eu acho que esse lado gay é um benefício para a humanidade, no sentido de controle populacional. Tem que existir a coisa gay, existe entre os animais... Tem também aquela coisa de moral, aquela moral pobre das pessoas que aproveitam uma situação para atacar qualquer um. É terrível! Estamos vivendo em plena ficção científica...


Mutantes, Cilibrinas, Tutti Frutti
Na época era muito duro, mesmo dentro dos Mutantes. Já tinha uma coisa preestabelecida de que eu tinha de tocar pandeiro - só um pandeirinho e uma sainha curta para mostrar as pernas. Aí eu falava: "Oh! Diretor! Eu também tenho talento! Deixa eu provar que eu tenho talento!" Eu gosto de humor, mas não podia. Caetano e Gil tinham sido exilados e os Mutantes ficaram órfãos. Então eles mergulharam dentro da música progressiva e fui convidada a me retirar do grupo achando que: "Oba. vou fazer uma banda!" Nunca me passou pela cabeça ser cantora, tipo Gal Costa, ser a pessoa de frente e ter uma orquestra acompanhando. Sempre encarei a música como brincadeira e poder fazer parte de um grupo. Aí passamos para o Tutti Frutti. E houve um certo clima esquisito, porque eles não conseguiam engolir eu como sendo a figura de frente. Mas o público gostava mais quando eu ia para a frente e eu sempre fui uma pessoa que faz o que o público gosta. Por mais que eu tentasse dividir a coisa, tinha sempre um motim. Isso numa epoca em que o rock'n'roll ainda tinha cara de bandido, imagine uma mulher fazendo rock'n'roll, mais bandida ainda! E os próprios meninos (do Tutti Frutti) eram muito radicais nesse ponto. Chegou num ponto, em Entradas e Bandeiras, em que fui parar no hospital por causa de uma anemia e eles simplesmente limaram (na mixagem) uma boa parte do que eu tinha feito - vocais, todas as interferências minhas... E não aconteceu porra nenhuma (com o disco) porque não tinha a Rita Lee fazendo as gracinhas que o público queria. Antes disso, depois dos Mutantes, teve uma dupla (Cilibrinas) com a Lúcia Tumbuíl. A gente queria fazer uma coisa acústica. Infelizmente fomos abrir para os Mutantes e, não teve dúvidas, fomos apedrejadas. No Tutti Frutti teve problemas com a Lúcia e o guitarrista, e ela acabou saindo por causa da pressão dos meninos. Ficou a coitadinha aqui sozinha, que acabou destransando o grupo da maneira mais sórdida possível. Porque o Sérgio Carlini (guitarra) pegou o nome Tutti Frutti, registrou e até logo para vocês! Pô, esse nome é do Bivar, que na época dirigiu o show da gente. Com Roberto foi legal Acho que é tão mal creditado o lance dele. Porque ele não é marido, ele nem é casado! Roberto é responsável pela metade do trabalho - trata-se de uma dupla, que também é um grupo. Isso é tão mal digerido!

Punks
Os mais punks do planeta são os brasileiros. Gosto muito de Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera... Acho que a coisa que tem mais força da moçada brasileira é o movimento punk. Hoje não consigo ouvir uma música com mais de um minuto... Gosto daquela coisa suja, porca, imunda. Aquilo sim é verdadeiro, é uma revolução. Não adianta dizer que é copiado. O que não é copiado? A gente não deve sofrer influências, deve ter influências. Acho que o movimento punk do Brasil é a melhor coisa que tem, ainda...

Flerte Fatal, o LP
Para o disco, a gente tirou um monte de música da cartola, como "Pega Rapaz", "Bwana", "Xuxuzinho", coisas que a gente sabe que é o vestido da dupla. E sabíamos que as pessoas iam falar: "Pô! Tão continuando na mesma? Não vão mudar?" Não, não vamos mudar. A gente mantém as coisas que dão certo, porra! O povo está fodido, precisando de festa. Não precisa de mais complicações, não precisa de música! Vamos dar o gostoso para eles, vamos dar a sobremesa logo de cara, já que não tem feijão e o sorvete é fácil. Eu gosto de fazer isso, não tenho pudores em fazer mesmices. Se bem que eu não acho que é mesmice. Chamo isso. de estilo. Então, tiramos da cartola um monte de coisinhas para a gravadora vender seu disquinho também, se quiserem.

Gosto, não gosto
Gosto de muita coisa e não gosto de muita coisa. Odeio Smiths, por exemplo. Acho uma bosta, um horror! Aquela bicha louca (imita Morrrssey) não tem nada para me dizer. Prefiro ouvir Cólera. Gosto muito mais do Djavan do que do Lionel Ritchie. Titãs eu acho um barato. E, também, o Lobão.


Outros projetos
Há muito tempo eu namoro com o cinema. Acho que lá pelo final do ano a gente estará filmando Como a Lua. A história é superlegal. Vai ser gravado no Pantanal, e por trás disso tem um manifesto ecológico de preservação do Pantanal. Os americanos estão interessados na produção da coisa. Então vai ter a versão em inglês. Mas este não é o único que eu tenho em vista. Tem um outro que eu não posso falar, senão gora. Fora cinema, queria continuar com literatura infantil. Já tenho o segundo livrinho do rato e chama-se Dr. AIex e os Reis de Angra. Tipo olhar esse lado da energia nuclear, que é uma vergonha no Brasil. Todos morrendo de fome, um monte de criança na Febem e... nuclear? Então tá! Política... Eu seria melhor prefeito que o Jânio Quadros. Ia pensar em limpar o rio Tietê primeiro em vez de cortar árvore a torto e a direito para fazer estacionamento subterraneo... Tenho vontade de um monte de coisa. Tenho vontade de abrir uma creche super alegre, pegar a meninada com aquele potencial de trombadinha, que é fodido, e botar uma massinha na mão deles e ver o que sai dali. Botar uma guitarrinha. Ao mesmo tempo com os velhos... Os velhos! Menopausa criativa uma ova, meu filho! (Rita se refere a um termo usado por um crítico sobre seu último disco.) O velho é uma enciclopédia. Sabe aqueles velhinhos que são sábios? Então eu acho que tem que ter asilos que não sejam pré-cemitério. Tenho vontade de fazer uma reserva fauna-flora e um hospital para loucos, também. Para doido, drogados, alcoólatras. E ter proteção lá. Polícia não entra, meu filho! A Clínica Tobias? Eu estive lá. Eu, Julinho Barroso, Raul Seixas... E tinha gente da imprensa também. Eu perguntava: "Quem é você?" E eles diziam: "Sou da imprensa".

Amém!


Rita, divina em 2001

Mais uma doce contribuição de Eliana

sexta-feira, 12 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tourbook 1980









Tourbook 1980 (contribuição especial e elegante de Eliana)

Propagando de 1987

segunda-feira, 8 de junho de 2009

1992: Rita 'encarna' Raul

Folha de São Paulo: Rita Lee encarna Raul Seixas em curta-metragem
Rita, vestida como Raul Seixas

Rita Lee está filmando o curta-metragem "Tanta Estrela Por Aí", no papel de Raul Seixas. Com direção do filósofo-cineasta Tadeu Knudsen, o filme deve estrear até janeiro. É o segundo curta de Knudsen. O primeiro, "Espectador" (89), recebeu o prémio de crítica e montagem em Gramado e Brasília.
"Tanta Estrela Por Ai" se refere a um episódio real da vida de Raul. Em 84 ele foi fazer um show em um clube lotado, na Grande São Paulo. Quando entrou no palco, foi confundido com um "cover" de si mesmo. Houve pancadaria e o cantor, sem documentos, foi parar na delegacia. "Confessou" ser um impostor para parar de apanhar e só foi solto quando sua mulher mostrou os documentos à polícia.
Rita Lee vive Raulzito Pantera. Participam ainda do elenco, sem cobrar cache, Otávio Augusto, Cláudio Mamberti e Marisa Orth (como a mulher de Raulzito).
Rita Lee diz que o convite para o filme "veio em uma época em que estava com Raulzito na cabeça, na veia. Ele aparecia nos meus sonhos e havia os livros sobre ele em minha mesa". Ela afirma que está feliz em "receber o santo" de Raul. "Recebo mesmo. Sinto o Raul o tempo todo. É como se estivesse dando um telefonema. Fiquei até parecida com ele..."
Tanto que nas filmagens de antontem Rita Lee repetiu, de um modo mais "light", o episódio vivido por Raul Seixas. Entrou no palco de barba, peruca, vestindo as roupas de Raul. Como não falou com o público nem cantou, a plateia se perguntava se era mesmo ela. Rita Lee conheceu Raul no Festival da Canção, em 68. "O lado radical dele é o que mais me atrai. Ele era um roqueiro planetário, corajoso. Somos da mesma tribo'', disse.




Foto de Rita no túmulo de Raul (contribuição de Eliana)

domingo, 7 de junho de 2009

Pirataria: vinil e CD do primeiro disco de Rita com Tutti Frutti

Capa e vinil da versão pirata do primeiro disco de Rita com o Tutti Frutti, que ficou nos arquivos da gravadora na época. Abaixo, uma reportagem que escrevi na época que ele foi 'lançado'. Detalhe para o selo do disco, que copia o estilo da gravadora Philips na época.

Disco raro mostra transição entre carreira solo de Rita Lee e os tempos de Mutantes da roqueira

Publicada em 14/04/2008 às 08h14m

Guilherme Samora

SÃO PAULO - "Deixe de uma vez o seu cabelo crescer/ Largue essa mania, dê o braço a torcer/ Abra essa cabeça e comece a entender/ Que Deus está mais contente porque finalmente já tem muita gente sabendo do rock and roll/ Comendo rock and roll/ Bebendo rock and roll". É assim que começa "E você ainda duvida" - clique aqui para ouvir - de Rita Lee em 1973, no que seria o primeiro disco da roqueira ao sair do seu antigo grupo, Os Mutantes. A gravadora, na época a Philips, achou o álbum de 10 músicas muito underground e decidiu não lançá-lo. Mas fãs brasileiros e europeus da rainha do rock brazuca decidiram se unir e fizeram, lá fora, uma versão não oficial do disco, em versão remasterizada.
A versão pirata - prensada de fábrica, não aquelas gravadas em CD-R do estilo camelô - vem numerada e apenas 500 cópias foram feitas. Num site sobre o "lançamento" do disco, os fãs garantem que só decidiram colocá-lo na praça pois a gravadora - quem detém os direitos da obra hoje é a Universal - prometeu lançar a jóia em 2001 e até agora nada. - Nossa intenção não é vender milhares de cópias, por isso fizemos apenas 500 - dizem no site.
E esse disco, que continua nos arquivos da gravadora, é uma página importante da história de Rita, que comemora 40 anos de carreira com sua turnê "Pic-nic", que volta a São Paulo nos dias 25 e 26 de abril. As músicas - que misturam o humor da ruiva, pitadas de rock progressivo, guitarras e violões acústicos e letras rebeldes - mostram a ligação da ex-loirinha dos Mutantes, que tinha desistido de fazer uma dupla só com violões acústicos com a amiga Lúcia Turnbull, agora ao lado do Tutti Frutti, a banda que ficou com ela até 1977.
Batizado de "Cilibrinas do Éden", essa edição dos fãs é erroneamente creditada apenas à dupla de mesmo nome formada por Rita e Lúcia. Na verdade - apesar de ter algumas composições da fase acústica que durou apenas alguns meses - este é um disco de Rita com o grupo Tutti-Frutti. Estão lá o guitarrista Luiz Carlini, o bateirista Emilson e o baixista Lee Marcucci, além de Lúcia. E Rita, além de cantar, assumiu os teclados e alguns violões.
As histórias ao redor do disco, aliás, já viraram lenda: segundo conta a roqueira, o então presidente da Philips, André Midani, foi o responsável pelo veto. No final de 73 e com raiva do que havia acontecido, ela se juntou ao amigo Tim Maia e os dois quebraram a sala de Midani em sinal de protesto.
Depois, por força de contrato, Rita e os colegas do Tutti Frutti voltaram para o estúdio e, no lugar do álbum vetado, saiu o clássico "Atrás do porto tem uma cidade", em 1974. Do disco rejeitado, apenas "Mamãe natureza" acabou sendo reaproveitada. Mesmo assim, com uma produção totalmente diferente e vocais regravados.
Em tempo: a versão bootleg do disco vem com duas faixas bônus, uma demo de 1972 de "Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida" (do segundo disco solo de Rita ainda na época dos Mutantes, que contou com a participação de todo o grupo no estúdio) e "Mande um abraço para a velha" (1972). A última é uma música não tão inspirada dos Mutantes e saiu apenas em um compacto, pouco antes de Rita ser expulsa do grupo para se tornar a rainha do rock brasileiro. Mas essa já é outra história.
Versão em CD. Os dois formatos foram limitados em 500 cópias cada

O disco faixa a faixa

Guilherme Samora

1 Cilibrinas do Éden - Uma viagem sonora com sussurros, teremim, risos, suspiros, sinetas e frases como "Eu não vi, eu não creio". Improvisos e influências do LSD marcam a música, uma das que foram gravadas num palco de teatro, com uma pequena platéia de amigos e técnicos de som. Dá até para ouvir alguns aplausos no final.

2 "Festival divino" - Cheia de cordas e bastante melancólica, conta a história de um paraíso em que bichos falam, o deus é cabeludo e vive tocando sua viola. O inferno, por sua vez, tem pessoas de ternos e de cabelos curtos. A abertura da canção, aliás, é um dos registros mais puros e belos da voz de Rita.

3 "Bad trip" (Ainda bem) - Uma das melhores do disco. Foi dela que surgiu "Shangrilá" (do mesmo álbum de "Lança perfume", de 1980). O começo, aliás, é praticamente o mesmo: "De repente eu me vejo/ Amarelada, bodeada, sem ninguém/ Nessas horas aparece a preguiça/ A vontade de sumir... de vez". A partir daí, entretanto, Rita revela versos bem mais pesados ("Que medo/ Que grilo/ Que bode/ Bad trip"). No final, para enganar a censura, ela repete a frase "Tive vontade, sim, de dar um tiro na cabeça". Mas, para fechar a canção, canta apenas "Tive vontade, sim, de dar...".

4 "Vamos voltar ao princípio porque lá é o fim" - Outra no esquema viagem total. Rita canta em dueto com Lúcia Turnbull: "Quero ouvir as trombetas chamando por mim".

5 "Paixão da minha existência atribulada" - "Sinto você/ Nesse meu violão/ Toco sua música/ Com minha mão/ Me apaixonei por você e por mim!", cantam Rita e Lúcia nesse rock acústico.
Rita com o grupo Tutti-Frutti. Foto: arquivo

6 "Gente fina é outra coisa"- Rita é uma das compositoras mais censuradas na época da ditadura militar. Essa música é um exemplo. A roqueira canta sobre os valores impostos pela sociedade da época: "Não vá se misturar/ Com esses meninos cabeludos que só pensam em tocar/ E você escuta o papai dizendo/ Que gente fina é outra coisa... Hoje mesmo te vi/ pensei que fosse seu pai/ Não, não, não, mas que decepção/ Eu fiquei triste de ver/ A sua vida começando pelo lado errado". E os censores não perdoaram: "Na letra em exame, uma jovem insurge-se contra o pátrio-poder, ao tentar persuadir um amigo a desacreditar de seu pai para juntar-se a um grupo juvenil de comportamento duvidoso", assinala o censor José do Carmo Andrade num documento de 30 de agosto de 1973. Ele afirma ainda que "a mensagem é negativa e induz aos maus costumes". Em outra tentativa de liberação, datada de novembro de 73, a letra de Rita é barrada novamente: "Apresenta conotação anárquica... sua liberação poderia acarretar uma desagregação social e familiar, de consequências negativas". Em 1977, Rita reaproveitou a música e fez uma letra nova para ela, que foi gravada com o título de "Locomotivas" para a novela de mesmo nome da TV Globo.

7 "Nessas alturas dos acontecimentos" - Rock pesado de Rita em parceria com o Tutti Frutti. Ela canta: "Periga até pintar um disco/ Tudo pode acontecer/ Você vai ver/ E quem fica parado é poste/ Eu quero é me locomover". Essa música, aliás, apareceu numa coletânea obscura que a Polygram colocou no mercado em 1981, só com músicas dos três primeiros discos dela, chamada "Os grandes sucessos de Ritta Lee" (assim, com dois Ts mesmo, como ela chegou a assinar no começo da carreira).

8 "E você ainda duvida" - Outra composição só de Rita, um hino ao rock, nos mesmos moldes de outros que a ruiva viria a fazer mais tarde (Como "Esse tal de roquenrol", de 1975, e "Orra meu", de 1980). O final tem versos de "Tutti frutti", de Little Richard. Essa faixa chegou a ser lançada oficialmente num disco do primeiro festival Hollywood Rock, de 1975. O álbum, que contava com músicas dos artistas que participaram do festival (como Rita, Raul Seixas e Erasmo Carlos) era para ser ao vivo. Mas acabou se tornando uma enganação: as gravações não tiveram qualidade e a gravadora simplesmente pegou músicas de estúdio dos artistas que fizeram o show e colocou aplausos no final.

9 "Minha fama de mau" - Regravação acelerada do sucesso de Erasmo Carlos, a quem Rita chama de pai do rock brasileiro. Termina com uma citação de "A hard day's night", dos Beatles.

10 "Mamãe natureza" - Primeira versão do clássico de Rita, com guitarras ainda mais marcadas e vocais mais "sujos".

Pra quem quiser ler na fonte:
Reportagem
Faixa a faixa

sábado, 6 de junho de 2009

Raridade: compacto francês de Tatibitati

Capa e disco do compacto de 'Tatibitati', lançado na França em 1982. No labo B, o disco trazia 'Mutante'.

1980: Roberto na revista Rita Lee - A vida e a glória de uma superestrela


Roberto: amigo, amante, parceiro de travessuras
Roberto de Carvalho, há três anos parceiro de Rita na música e no amor, é uma daquelas pessoas que estão sempre otimistas e de bem com a vida. Por isso mesmo, ele é um supercompanheiro de seus filhos, um amigo que todos adoram ter por perto e, acima de tudo, a única pessoa que consegue acompanhar o ritmo louco e irriquieto de Rita no dia-a-dia da família.
Roberto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de novembro de 1952. Começou a estudar piano muito cedo e, já aos sete anos, era considerado gênio musical pelas professoras, pois tocava sinfonias de Beethoven de ouvido!

Ele já brilhou nos EUA e é amigo de Mick Jagger!


Mais tarde, os Beatles e os Rolling Stones viraram a cabeça de Roberto. Para desgosto de seus professores do Conservatório Brasileiro de Música, ele escolheu o rock como linguagem musical e, poucos anos depois, iniciava sua carreira profissional tocando guitarra e teclados nos grupos de Jorge Mautner, João Ricardo e Ney Matogrosso. Nas muitas viagens internacionais que já fez, Roberto tocou com o grupo Santana em San Francisco, numa temporada, e ficou amigão de Mick Jagger, com quem até hoje bate papos pelo telefone. O encontro com Rita Lee aconteceu em São Paulo, numa paixão à primeira vista que se transformou em amor. Aliás, um grande amor...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

1987: protesto na Praça Buenos Aires

Em 1987, Rita Lee protestou contra as "garagens do Jânio". O projeto do então prefeito Jânio Quadros visava construir garagens subterrâneas em dez áreas públicas de São Paulo. Rita e outros paulistanos se mobilizaram contra o projeto, que ameaçava o verde. A roqueira comandou o protesto na Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis, onde seria construída uma das garagens.
Teve até passeata na paulista contra os planos do prefeito. No final das contas, dos dez estacionamentos previstos por ele, foram construídos apenas dois: da praça Alexandre Gusmão (aquela atrás do Trianon) e o da avenida Enéas Carvalho de Aguiar (perto do Hospital das Clínicas).

quarta-feira, 3 de junho de 2009

1974: Rita em casa


Revista Pop 1974 - As mil cores da casa de Rita Lee

Parece uma casa de conto de fadas. Fica no alto de uma colina, cercada de árvores, com um lago no fundo. O ar é puro. E as pinturas coloridas das paredes trazem a natureza ainda mais para dentro de casa. Ali, bem longe da poluição do centro de São Paulo, Rita Lee está morando com o pessoal do Tutti Frutti — conjunto que montou para acompanhá-la, desde que se desligou dos Mutantes.

Para eles, a vida é, antes de tudo, uma tremenda curtição. Acordam com o cantar dos passarinhos, passeiam de barco no lago, tomam sol no gramado que desce a colina a partir da varanda, fazem a própria comida e a toda hora estão despejando a criatividade e as boas vibrações nos instrumentos musicais. "Essa paz e o contato com a natureza estão me fazendo compor cada vez mais", diz Rita, enquanto rola na grama com seu novo namorado, Andy Mills, um americano que era técnico de som de Alice Cooper. A noite, o fogo de uma imensa lareira ilumina a casa e embala os sonhos de Rita Lee e seus amigos.

terça-feira, 2 de junho de 2009

1998: Entrevista sobre alimentação

Claudia Cozinha, janeiro/ 1998. Trechos de uma entrevista bem diferente, com Rita falando sobre seus hábitos alimentares


"Odeio sorvete, chocolate e molho branco"

Claudia Cozinha - O que é bom comer numa banheira de espuma?
Rita Lee - Mousse de limão.

Como Você consegue se manter magra?
Odeio chocolate, sorvete e tenho pavor de molhos brancos e gororobas, como arroz branco papa, feijão-cola, purê de batata e ovo frito.

Você adora navegar e dar entrevistas pela internet. Nessas ocasiões, gosta de comer algo?
Não ando muito boa de garfo. Mesmo assim, quando bate a larica existencial, mastigo um gingibre cru bem ardidinho ou umas azeitonas simpáticas.

Existe algum prato que sempre que você faz sai errado?
Sou uma hippie exemplar, mas meu arroz integral é intragável.

O seu paladar mudou da época dos Mutantes pra cá?
Antes um cachorro-quente fazia a cabeça do meu estômago, hoje meu fígado teria um ataque. Meu paladar só gosta do que me faz bem. Além dos verdinhos, me amarro num queijinho mineiro e sou tarada por melancia. Fico me imaginando num deserto, tendo miragens com melancias que são, digamos, uma comida que mata a sede e uma bebida que mata a fome.

Já comeu alguma vez de marmita?
Quando era criança, tinha fixação por marmitas de pedreiros. Tanto fiz que minha mãe teve que comprar uma marmitinha para mim, senão a greve de fome não acabaria mais.

Contribuição especial de Eliana

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Propaganda de 1982

1978: notícia sobre a turnê "Babilônia"

Diário Popular - 01/09/1978

A Babilônia de Rita Lee, com muito deboche e humor

"Um dia, Gilberto Gil me disse: Rita, mete a cara, aí então, tudo começou". A partir deste momento, Rita Lee começou a se preparar para se tornar a maior shòw-woman surgida no Brasil nos últimos anos e sofrer as mutações naturais para, finalmente, chegar à Babilônia, espetáculo que estreia hoje, às 21 horas, no Teatro Bandeirantes, com a participação do grupo Cães e Gatos, ex-Tutti Frutti, e mais 4 mil watts de som e 15 mil watts de luz.
Rita Lee Jones já era Mutante durante a era tropicalista de Gil e Caetano. Talvez seja um exagero considerar Rita Lee uma "metamorfose ambulante", mas o seu trabalho tem se desenvolvido em um sentido de mudanças a cada nova aparição pública. E o seu próprio público também tem mudado.
Recém chegado do Rio de Janeiro, onde esteve em cartaz no teatro Thereza Rachel, Babilônia foi apresentado naquela cidade para pessoas que variavam de 8 a 80 anos. "Foi um negócio bacana porque o meu show atraiu um número muito grande de crianças. Talvez isto tenha acontecido em decorrência do meu próprio comportamento no palco, onde faço brincadeiras e não paro um instante", argumentou Rita.

DEBOCHE
O compositor baiano Tom Zé, outro reminiscente do Tropicalismo, em um dos seus discos faz uma queixa. Segundo ele "todo compositor brasileiro é um complexado", pois só fala à sério. E a estrela de Babilônia é a 'personificação do deboche e do bom humor, comportamento segundo ela, tipicamente brasileiro. "Por que não se utilizar do deboche também na música?", pergunta ela. E ataca de "Arrombou a Festa", onde "comenta" as fórmulas que sempre dão certo para se fabricar um grande sucesso.
"O paulista é muito sério, gosta de ficar vendo os defeitos". Mostrando uma preocupação excessiva com o tipo de receptividade que o seu espetáculo poderá ter em São Paulo, Rita Lee, apesar disso, está tranquila. Em sua casa no Pacaembu, ela não deixa de falar em seu filho, causa principal de mudanças decisivas em sua vida — e apenas, superficialmente de sua prisão, quando foi acusada de porte de maconha.
"Acho que estou cada vez mais parecida com o povo, mas acredito que o artista deva cantar as coisas que observa e não empunhar bandeiras que não são dele. Não tenho o menor jeito para deputado". Esta é a sua resposta para aqueles que exigem dela um "compromisso político". Ao mesmo tempo, já entrou em contato com as Frenéticas a fim de que juntas possam montar um espetáculo dirigido às crianças, velhos e pacientes de hospitais ou entidades. Afinal — disse Rita — "estas pessoas também precisam de um pouco de música, de alegria".
Babilônia ficará em cartaz no Teatro Bandeirantes até o próximo dia 30, de quarta-feira a domingo. Os preços serão cobrados a 80 cruzeiros durante a semana, e 100 cruzeiros aos sábados e domingos.